quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O amor de cabelos brancos

O amor está velho.

Sempre achei que o amor seria isso: um constante ajuste, algumas brigas, um monte de carinho, mais um monte de brigas, alguns acontecimentos que mudam o rumo, outros que aproximam os caminhos e por fim, a paz. "Eu quero a sorte de um amor tranquilo", do Cazuza. Só que achei que fosse tudo com a mesma pessoa, no período entre 18 e 19 anos. Até a parte da paz; esta, seria dos 19 até o fim da vida, com 80 e poucos anos e um cobertor em dia de verão. É... sei que não é assim.

Com 30 anos o ajuste é mais simples, a tolerância maior, a paciência engraçada, o carinho mais real, o amor mais de verdade, e tem cabelos brancos.

A gente quer tanto ser tão companheiro que nem precisamos mais falar....se um abaixa a cabeça ou o outro chega com uma pinça, temos a cumplicidade de procurar e acabar com qualquer fio branco na cabeça do outro. No começo achei o fim: queria uma tinta urgente, antes que ele, meu amor, percebesse que eu estava "embranquecendo". Agora não, estamos os dois embranquecendo. "Vou ficar grisalho, né Linda?!". Vai. Lindo.

Isso tudo é um pouco estranho, mas interessante também. Sei que iremos aceitá-los, assim como aceitamos umas linhas novas na testa e umas sardas novas na ponta do nariz. Ele sempre diz "Linda, o cabelo está aí. Melhor eu gostar". Tá falando dele, claro! Para o meu "não gosto" tem escova progressiva...Hunf! Aliás, enquanto estico, puxo, seco, e percebo um fio que brilha mais que os outros, logo grito:

- Amoooor! Amooor!

Ele abre a porta do banheiro rapidamente e diz ansioso:

- Cadê Linda?! Deixa comigo!

Quando a gente tem cabelos brancos a procurar, e logo mais a aceitar, conseguimos sim achar mais graça até das diferenças. Juro que acho graça quando ele faz tromba me contrariando ou pisca curtinho pra me despistar. Quero rir, mas nem sempre posso, para não perder alguma dureza que se há de manter.

Acho que ele tem razão: a melhor tintura contra cabelos brancos é achar bom. Achar tudo bom. Achar tudo uma oportunidade única. Enquanto ele lê, eu planejo o que comer. Enquanto passo filtro solar, ele assa a carne. Achar o outro bom. Achar bom estar ali e achar bom poder fazer isso.

Ontem foi a primeira vez que vi os cabelos brancos dele e escutei "Deixa linda...são meus, não precisa tirar".

O amor está mais maduro.

Nenhum comentário: