sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mágico

Chega esta época do ano e agradeço imensamente a sorte de ter meu marido lindo ao meu lado., me apoiando, compreendendo, abraçando.

Faz 8 anos que meu pai morreu. Este texto, escrevi quando fez 5...mas me parece mais atual do que nunca. lembro que quando perdi meu pai pensei bem egoistamente: ele não me verá de noiva um dia?! Como assim?!

Venho aqui fazer algumas considerações sobre esta coisa de morrer. Venho na verdade dar minhas brancas bochechas à tapa, porque bem sei que uma minoria irá concordar comigo, mas vou dizer...

Todo mundo morre. Todo mundo é muita gente como ele sempre diz. É. É muita gente...e isto é tão verdade como o fato de que todo mundo, toda esta muita gente, nasce. Nasceu, tem que morrer, simples assim. Sem filosofar a respeito dos diversos tipos de nascimento e morte. Estou falando da morte mesmo: aquela vestida de preto com foice na mão, sem um pingo de poesia, a coitada. Com arrogância, displicência, um mal humor do cão. Ela mesma, vocês sabem quem. E esta coisa de dar vida à morte e chamá-la de quem também é o fim...não é quem coisa nenhuma, é o quê, é coisa, não é gente.

Um dia escrevi um texto sobre os anos da morte do meu pai e as pessoas demoraram mais de mês para comentar. Até entendo este efeito retardado sabe...é difícil mesmo, não se tem o que falar (pêsames? não!), não se sabe o que pensar, menos ainda o que chorar.

Todo mundo perde o pai, e sente igual. Todos concordam na sensação, palavras e dor. Mas não se sabe o que chorar porque quando perdemos alguém que amamos muito, perde-se coisa demais, impossível mensurar tantas numa única vida. Quando fazemos o luto (e ele dura sua vida toda, toda, toda...não há quem me convença do contrário), temos que fazer o luto por cada lembrança, cada lembrancinha, além do corpo, dos papos, dos momentos, do cheiro, além de tudo. E o pior e mais duro: tem-se que continuar a vida. Não há nenhuma opção, entendeu? ZERO. Dizem que o que não tem remédio, remediado está. Um horror, uma falta de companheirismo deste Deus que nem deixa a gente ficar quieto por pelo menos mais uns 30 anos quando se perde o pai com 24... É, não dá. Pronto e acabou.

Li lá no Carpinejar que ele fez uma caixa de papelão mágica para o filho. Ele diz que a caixa é mágica, não ele como pai. Pais não são mágicos. Comentei discordando. Meu mágico se foi e eu que fiquei na caixa. Pais são mágicos sim, a começar pela concepção... Coisa mais esquisita este negócio de doar um espermatozóide microscópico e ele ajudar a fazer um bebê, coisa tecnológica me parece, e linda. Então, o cara não é mágico?

Agora vem a confissão. Eu não acredito na morte. Dou de ombros pra ela. Do fundo do meu coração, não me importo. Morro de chorar quando quero gritar por 30 anos ininterruptos, é assim que sinto, é assim que parece justo fazer. Mas não creio nesta história.

Quando meu avô morreu há 12 anos, eu era adolescente e tinhas 30 bilhões de dúvidas, uma pra cada neurônio talvez, e uma única certeza: eu sabia qual era o pior dia da minha vidinha de 17 anos. O pior de todos, o fundo do poço, o horror em forma de dia. Perdi meu mágico, grande mágico também meu avozinho querido. Então, como num click, sei lá o que aconteceu e eu comecei a estudar espiritismo. Aí uma luz se acendeu e eu nem achava que isto seria possível. Deus é mesmo companheiro. Assim, a morte foi aos poucos (bem aos poucos) se tornando uma conhecida, e depois ela parou de ser assustadora, até ganhou outro nome, chamo de desencarne. Chamo de morte corriqueiramente pra facilitar quem me ouve. Mas é morte não. É assustador como podemos controlá-la. Garanto! Do mesmo jeito que algumas pessoas escolhem a hora dela, e puf! acabam ali. Deste mesmo jeito eu escolho entendê-la, e até mesmo esperá-la, porque não me importo. Porque sei que vou realizar tudo que tiver que realizar, nem mais nem menos. Amo a vida, amo muito. Vou saltar de pára-quedas e aprender violão, ja contei isso? Vou até ser fotógrafa e também ajudar um monte de gente como psicóloga. Vou ser mãe, sabiam? Ih, tanta coisa vou amar fazer! Conto isso pra ninguém me entender errado, não quero morrer ou desencarnar logo. Conto porque gostaria que fosse mais simples, gostaria que as pessoas queridas que me escreveram e que vivem esta dor simplificasse o processo e imaginassem que seus mágicos estão numa viagem bonita e que o verão de novo. Quando for hora, será como tirar um coelho da cartola: estava lá!

É um pouco de revolta aqui... Mas muito mais de amor.

Agora, mesmo que morrer não importe a mim, os que eu amo não podem, combinado né?!

3 comentários:

Ju** disse...

Ma, pra variar, lindo o texto...
E por mim tá feito o pacto, mas tem q valer pros dois lados, tá? rs
bj amiga!

MH disse...

É Mari, a morte é uma coisa muito difícil de entender e aceitar, mas penso um pouco como você... Este ano perdi meu avô, chorei até não poder mais, mas não acho que ele "acabou". Ele está lá, bem, aliás melhor do que aqui com a doença e deterioração, com o sofrimento. Sem pressa nenhuma, tenho certeza que ele continua ao meu lado e que um dia nos veremos de novo. Não posso imaginar a dor de perder o pai, não ter mais a presença, os papos, a convivência no dia-a-dia... Mas acreditar nisso ajuda, com o tempo!
beijo e parabéns pelo texto!

Kika disse...

Má,
que texto lindo. adorei.
muito difícil falar desse assunto de forma táo positiva e verdadeira.
aliás, adoro quando você descarrega essa faceta positiva, cheia de otimismo e alegria.
Adoro você amiga, mas adoro ainda isso que, ao meu ver, é o seu melhor.
Viva a vida de casado!
:)
beijos